Dependência
Química
O sujeito para além da sua droga
Em consonância com as pesquisas realizadas pelo Ministério da Saúde, acreditamos que o tratamento para dependência química se sustenta em três pilares indissociáveis: as questões subjetivas que levaram à dependência, os laços sociais e laborais e o tratamento medicamentoso.
O foco do trabalho da Margem para o tratamento das dependências químicas é a identificação dos fatores subjetivos que levaram ao abuso. Sempre há uma falta, um vazio, uma compulsão, ou um outro transtorno mental por trás da dependência química (quadros psicóticos, depressivos), e é necessário compreender isto para pensar além da substância. Este é o primeiro passo para uma recuperação.
Um outro fator de extrema importância é manter, e até fortalecer, os laços sociais e laborais. Podemos observar que, na maioria dos casos, o uso abusivo da droga desperta uma agressividade com os familiares e amigos.
A busca incessante pela droga e o isolamento decorrente do uso compulsivo, afastam o sujeito do seio familiar, do trabalho ou dos estudos, principalmente quando há internamentos de longo prazo, algo que ainda hoje é muito comum. Com a fragilidade desses laços como um dos sintomas, fica muito mais difícil sustentar um processo de recuperação, o que pode nos ajudar a entender a reincidência de recaídas, como um ciclo sem fim.
Em terceiro lugar, existem fatores importantes relacionados ao funcionamento das drogas no organismo, a maneira como o cérebro reage diante de seu uso abusivo e sua retirada, com crises de abstinência intensas. Cessar ou reduzir um uso sistemático e abusivo de substâncias químicas é realmente muito difícil, mas não é impossível. Nesse sentido, o acompanhamento médico é necessário, e existem muitas medicações eficientes para diminuir os sintomas dessa crise.
Tendo em vista esses fatores, o AT sustenta os três pilares fundamentais no tratamento para dependência química: 1. abordar as questões subjetivas que levaram à dependência, 2. acompanhar o paciente na reconstrução de relações e vínculos que vão além do uso da sua droga, e 3. por fim, em parceria com a psiquiatria, fazer uso da medicação para aliviar os sintomas da crise de abstinência. Por esses motivos, acreditamos que o Acompanhamento Terapêutico é uma ferramenta indispensável neste tratamento, possibilitando um processo de recuperação longe das longas internações.
Para que sair do Consultório?
Acreditamos que os espaços da cidade podem potencializar a escuta clínica, principalmente na compreensão dos fatores que dificultam a construção do laço social do paciente.
A cidade traz elementos que não cabem dentro de paredes de consultórios: a buzina de um carro, um colega de sala de aula pedindo um lápis emprestado, um olhar atravessado do recepcionista de um café. Quando estamos ao lado do paciente no momento exato em que estes fatos estão acontecendo, podemos observar de maneira mais precisa como se dá a relação do paciente com o outro, com o desconhecido, e como ele consegue lidar com isso, quais suas defesas diante destas relações. Por conta desta especificidade, podemos argumentar que o AT está numa posição privilegiada para conseguir identificar esses elementos que levaram o paciente a um isolamento, depressão, relação com as drogas, etc.